Quando Friedrich A. Kittler faleceu, em 18 de outubro de 2011, em seu 69° ano de vida, as reações do público intelectual alemão foram mais numerosas, minuciosas e intensas do que as provocadas pela morte de qualquer outro praticante de ciências hum a nas desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Até o fim de sua obra e vida, Kittler havia sido admirado e, ao mesmo tempo, confrontado com um incessante ceticismo acadêmico. Fiquei surpreso ao ver o reconhecimento unânime de sua importância. Esse efei t o pode ter se originado em uma situação estranhamente tautológica: as mídias reagiram à morte do autor erudito que havia conquistado para elas um lugar na paisagem intelectual e acadêmica. A isso juntou-se também a impressão de que o acontecimento d a morte, sempre monumentalizador, fizera transparecer pela primeira vez - e, num primeiro momento, talvez de modo passageiro - a estrutura, a complexidade e a relevância especial da obra de Kittler em suas diversas dimensões simultâneas. Inicialmen te, mais como pressentimento e promessa de uma verdade específica, que resulta da técnica do nosso presente e de sua pré-história, do que como um conhecimento ou uma tese elaborada.