Quem Matou Celso Daniel? Celso Daniel Foi um gestor competente, criativo, respeitado e comprometido com a redução das desigualdades e o aprofundamento da democracia. Entretanto, como a cultura de esquerda por vezes autoriza a crença de que os fins justificam os meios, não se viu eticamente obrigado a repudiar práticas ilegais, uma vez que seus frutos, originalmente, não constituíam benefícios pessoais, apenas fortaleciam o partido. Esse equivoco, aos poucos, o enredou em uma teia de interesses privados e de ambições predatórios. Quando buscou desembaraçar-se das redes perversas que o prendiam a intenções subalternas, deu-se conta de que a trama é que se libertara e prosperava com relativa autonomia. A criatura acabou devorando o criador, porque a voracidade da corrupção, quando convive com a política, finge que se deixa instrumentalizar apenas para melhor instrumentalizar a política. Apropriando-se de mecanismo público, o crime se organiza impõe-se, coage, ameaça e mata. O fim trágico do prefeito de Santo André, em janeiro de 2002, trouxe á tona a face sombria do poder popular, no Brasil, exatamente ao nível local, onde suas virtudes pareciam destacar-se. A radiografia incisiva, sintética, corajosa, lúcida e reveladora de Leonardo Andrade Aguiar é um testemunho poderoso sobre um dos episódios mais dramáticos de nossa história recente. O autor nos mostra que o assassinado do prefeito manchou de sangue as máscaras falsas e oportunistas a utopia.