O Cardeal alemão Joseph Ratzinger (o futuro Bento XVI), aos 58 anos, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, aceitou o convite do jornalista italiano Vittorio Messori, à época com 44 anos, para um diálogo direto e sincero sobre os rumos da Igreja Católica. “Era o projeto – segundo o entrevistador – sobre a ruptura do silêncio secular, do responsável pelo órgão que, até após o Concílio Vaticano II, tinha levado o nome de ‘Santo Ofício’. Uma novidade histórica, uma série de entrevistas com um repórter, e que haveriam de formar um livro, apresentando um balanço da situação da Igreja, vinte anos depois do Concílio”.
O ano era 1984, auge das discussões sobre a Teologia da Libertação. Véspera do Sínodo Extraordinário comemorativo do vigésimo aniversário de conclusão do Vaticano II (1985). Messori encontrou-se com o purpurado alemão no Seminário de Bressanone, nos Alpes tiroleses, nos dias anteriores à festa da Assunção de Maria ao céu. Uma antecipação do conteúdo da entrevista suscitou manchetes clamorosas em jornais de todo o mundo. “Ainda estávamos – dizia Messori noutra ocasião – em plena contestação eclesial [...] e nessa altura não era nada fácil na Igreja chamar-se ‘Ratzingeriano’... Tive mesmo de me esconder, desaparecer durante mais de um mês, retirei-me para as montanhas... A minha culpa não foi apenas por ter dado uma voz ao nazikardinal, mas também por ter-lhe dado razão”.