Faz alguns anos que tenho notícia do projeto da organização de um livro sobre Oswaldo Corrêa Gonçalves. Finalmente, Gino Caldatto Barbosa e Ruy Eduardo Debs Franco nos oferecem a acalentada reverência, neste extensivo trabalho cujas fontes foram o próprio homenageado e seu arquivo técnico e pessoal. Como registro e demonstração de admiração, sua escrita é um permanente preito à figura. Que pode e deve ser visto com outros olhares, a quem interessar possa. Oswaldo Corrêa Gonçalves foi um front man: o homem de frente, o que aparece, um líder, mas em torno do qual há outros personagens sem os quais esse de destaque não existiria. Nessa quase permanente atuação em grupo ou no seio da categoria profissional, o arquiteto não foi um criador genial, mas a criatura e a criação de um tempo de mudanças. A revelação de sua trajetória nos traz o retrato de uma época. Suas relações com entidades, instituições e iniciativas como IAPC, Sesc/Senac, Convênio Escolar, Ipesp, BNH-Inocoop, Page e o Plano Diretor de Santos testemunham um percurso de consolidação das diretrizes da era Vargas à ditadura pós-1964. Os projetos de postos de serviço para automóveis recordam a vontade de um desenho próprio para a nascente indústria automobilística brasileira. De articulista de imprensa a urbanista, do ensino de arquitetura à militância intransigente no Instituto de Arquitetos do Brasil, Corrêa Gonçalves foi dos tantos que trabalharam e ajudaram a prefigurar o exercício da arquitetura e do urbanismo no país, contudo eclipsado por heróis e obras mais vistosas na historiografia da arquitetura brasileira. Aos 40 anos já ostentava um invejável acervo de realizações. Figura de prestígio social, econômico e cultural igualmente invejáveis, Oswaldo Corrêa Gonçalves foi um híbrido de dândi e ativista, simpatizante das esquerdas com trânsito entre militares e na Igreja. Seu perfil paradoxal parece espelhar as contradições do Brasil pós-Segunda Guerra Mundial. O livro é um magnífico tributo a esse improvável personagem nos dias de hoje. Hugo Segawa Arquiteto e professor titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi indicado ao 59o Prêmio Jabuti por Jayme C. Fonseca Rodrigues: arquiteto.