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Livro - Flavio Koutzii
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Livro - Flavio Koutzii

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Informações do Produto

Este livro abrange os anos de formação de Flavio Koutzii, desde a infância no bairro Bom Fim, seu ingresso na política, sua militância no Brasil e na Argentina, seguida pela prisão e pelo exílio, até seu retorno a Porto Alegre, em 1984. Como muitos de seus contemporâneos, ele vivenciou a efervescência política e cultural da “geração 68”, bem como sofreu com intensidade a repressão que se abateu sobre os homens e mulheres que tiveram a coragem de resistir às ditaduras latino-americanas.Pesquisa acadêmica de Benito Bisso Schmidt (Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História da UFRGS. Docente do Mestrado Profissional em Ensino de História e Pesquisador do CNPq.) sobre Flavio Koutzii. O autor buscava um personagem cujos percursos muito pudessem nos contar a respeito da história latino-americana recente. Por sua vez, o biografado Flavio Koutzii buscava “garantir a inscrição de sua vida e dos valores nos quais acredita em uma narrativa capaz de fazer jus, sem concessões heroicizantes, à densidade e complexidade de sua história e da sua geração”. Assim, deu-se o encontro ideal para a origem de um livro. Benito nos conduz por entre os diversos aspectos que compõem o caminho do biografado. O livro tem apoio da Capes, CNPq e Programa de Pós-graduação de História.(orelha) A biografia e o biografadoFlávio AguiarSão sempre as perguntas que nunca querem se calar: a biografia faz jus ao biografado? E vice-versa?Comecemos pela biografia. Benito nos conduz com muita segurança (felizmente!) e muita hesitação (felizmente!) por entre os diversos meandros, as veredas, os liames e as teias que compõem o fio do biografado. Assistimos, quase como contemporâneos, a fuga dos judeus da Europa deflagrada, o antissemitismo difuso do Brasil onde se refugiam, o menino Flavio crescendo entre as tensões, as suas primeiras opções revolucionárias, as lides dos movimentos estudantis, os rumos clandestinos durante a ditadura, a fuga para São Paulo, depois até a Argentina, a prisão, a tortura, o exílio na França, até o lançamento de suas “memórias do cárcere” e o retorno a Porto Alegre, onde se engaja no PT recém-criado. Aqui se detém a biografia, e o restante da vida do biografado fica para um hipotético segundo volume.A narrativa de Benito se desdobra numa linguagem despojada, mas nada simplória, despida de cacoetes pré ou pós-modernos, ressaltando sempre a natureza ímpar, o caráter íntegro do biografado e as inevitáveis dúvidas e (in)certezas de suas decisões. Acompanhamos, assim, o tortuoso caminho das trajetórias das esquerdas naquela América Latina convulsa dos anos sessenta e setenta, até o aparente remanso da redemocratização, hoje posta em dúvida pela ofensiva de estilo neofascista da direita em todo o continente.Seguimos, como linhas paralelas (aquelas que se encontram no infinito), a natação do biografado por entre as redes dos debates e encruzilhadas dos movimentos revolucionários no Brasil e na Argentina, e depois na França, e também por entre as redes não menos complexas de sua vida afetiva, onde desponta a extraordinária delicadeza com que Benito entra em temas tão complexos e íntimos. Ainda se vê muito de perto a complicada e tensa reelaboração de sua memória através da psicanálise. A leitura da biografia é plenamente satisfatória.Agora, nos toca considerar o biografado. Flavio Koutzii se mostra, através desta biografia, um ser plasmado pelo seu tempo – o das intempéries ditatoriais neste pedaço de sua memória, de resto, cheia de pedaços em seu coração –, mas que simultanea­mente o plasmou com sua personalidade rebelde, indomável e por sua inquebrantável lealdade ética aos princípios do socialismo, da liberdade e da procura incansável da justiça social, atuasse onde atuasse, das ruas de Porto Alegre às da Argentina e França, dos horizontes da liberdade ao profundo das masmorras. Assim como a biografia faz jus ao biografado, este faz jus àquela. Flavio Koutzii se revela como daquelas personalidades que, personagens das tragédias, comédias e dramas do nosso tempo, pode se olhar no espelho sem se envergonhar do que vê. Uma qualidade não exclusiva, mas bastante rarefeita hoje em dia.Para concluir, um toque pessoal. Vejo sucessivas imagens de Flavio Koutzii. A do militante calejado da Faculdade de Filosofia de Porto Alegre, quando eu era um “foca” em termos de movimento estudantil universitário. O comentarista brilhante da conjuntura, com seu olhar perfunctório sempre dirigido para o fundo da sala e o horizonte além… O cara assustado que acampou, perseguido, em minha casa em São Paulo. O retrato do companheiro Laerte (seu nome de guerra), que os carcereiros do DOI-CODI me mostraram, e que desejavam matar. O rosto cinzento e macilento de sua chegada à França, nas fotos, depois dos anos de mergulho no coração das trevas nas masmorras argentinas. O seu retorno triunfante, que vi pela televisão, ao seu pago natal, a Porto Alegre que então o recebia de braços abertos para o futuro. E nosso último encontro ao vivo e a cores, em São Paulo, quando eu já me mudava para Berlim, momento em que evocamos e comparamos nossas trajetórias, em todos os sentidos, tão próximas e tão distantes quanto duas paralelas. Que, como a gente sabe, se encontram no infinito.

Ficha Técnica