Chumbo é um romance impactante sobre a violência política e seus reflexos psíquicos persistentes. Virgínia Ferreira narra a história de Ana e seu tio Paulo, preso e torturado na ditadura militar brasileira. As histórias de ambos os personagens se misturam num relato sensível e mobilizador sobre esses tempos sombrios e sobre os desdobramentos que o período ainda projeta. A protagonista é Ana, 36 anos. Ela vive em Nova York e atravessa um momento de investigação interior, depois de uma crise psiquiátrica. Os dias de inverno passam lentos e sua psique está atravessada por imagens e reminiscências que os sonhos lhe oferecem. Ela também tenta retomar um relacionamento que parecia perdido, com Henrique. Ana relembra a relação profunda que estabeleceu com Paulo, como um pai que ela gostaria de ter tido — a relação com o pai biológico, um empresário bem-sucedido, é marcada pela frieza emocional e pela tensão das escolhas políticas diferentes. A lembrança do tio dispara nela memórias do que ela viu, ouviu e pressentiu durante a infância. O estilo narrativo de Virgínia Ferreira é ao mesmo tempo elegante e surpreendente. As falas dos personagens emergem sem marcações, num discurso entrecortado por lembranças, frases que insistem em se formar e revisitar momentos decisivos. Como diz o escritor e professor Jacques Fux na orelha do livro, “neste belo romance, vozes, pensamentos e as memórias pessoais, coletivas e históricas vão e vem com intuito de confrontar o silêncio imposto pelo trauma pessoal e pela estrutura fascista. A narradora nos fala dessa angústia [...] Chumbo é um livro que merece ser lido, relido e estudado. É a escrita da dor, é escritura dolorosa, é a revelação da dor da vida, da dor do texto, da dor da memória e da palavra.”