sinopse | O ato de informar-se não depende puramente do acaso. Temos a impressão de que notícias caem em nosso colo a esmo. As coisas, entretanto, são menos casuais do que sugere a aparência. Como todo fenômeno complexo, produzir ou receber notícias depende de uma sinuosa cadeia de causa e efeito. E não é à toa que a crise da democracia representativa coincide justo com o declínio material e de meios do jornalismo. Antigas fórmulas de apuração, checagem e correção de dados são hoje desafiadas pelo acesso generalizado a notícias e pela massificação da produção de conteúdos impelidos pelo advento das tecnologias da informação.
O atordoante ruído provocado pela oferta em desvario de conteúdo virou ferramenta de grupos, organizações e indivíduos que jogam com a agonia das instituições republicanas e o boicote ao frágil aparato formal das democracias. Em lugares onde a política já amarga uma certa vulnerabilidade, como o Brasil, tal fenômeno assume contornos trágicos.
A imprensa jamais foi inocente ou imune aos ânimos da política. A comunicação é um commodity de guerra, e o ato de informar caminha ao lado de exemplos históricos do cometimento de erros de apuração ou de parcialidade ao reportar fatos. Fosse pelos seus vícios ou virtudes, as tensões que movimentavam o jornalismo serviam como termômetro da saúde da política e de bússola para o aperfeiçoamento da experiência democrática. Contudo, a manipulação deliberada de informações falsas em escala de “big data” é um fenômeno distinto, como explica com paciência didática e amparado em dados claros, o autor de As Cinzas e os Fatos, Carlos Senna. Uma leitura necessária seja para profissionais da comunicação, políticos ou cidadãos que precisam de fontes confiáveis sobre como navegar este novo paradigma
Quarta capa
“A captura e o controle do newscycle (ciclo diário de notícias) permite que agentes da desinformação imprimam na audiência suas visões. Não é necessário a eles que a audiência concorde com suas visões, mas apenas que a mensagem alcance o maior número possível de pessoas, de forma repetitiva e marcante. Os jornais, de palcos para desmascarar os falsários, viraram palanques para as falsidades, já que a audiência não tem paciência para chegar à revelação do confronto entre depoimento e apuração jornalística”. |
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