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Livro - Vergonha, um afeto estruturante
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Este livro coloca a vergonha em foco para avaliá-la, sob o paradigma junguiano, tanto em suas dimensões arquetípica, e pessoal – inerentes ao ser humano – quanto em sua dimensão estruturante. A vergonha é caracterizada como um afeto inato que brota no interdito, compondo a persona e criando a sombra. Porém, o modo singular de cada indivíduo experienciar a vergonha está intimamente vinculado ao desenvolvimento da autoestima. A história bíblica do Paraíso Perdido é o mito fundador da vergonha/culpa na nossa cultura ocidental, e aparece, a princípio, conectada ao crescimento da consciência, baseada na separação do Self do outro (Eva) e do Deus, resultando na perda do Paraíso e da totalidade original. Esse evento mítico, em especial, pode ser comparado a certas etapas do desenvolvimento da criança. A fase anal – caracterizada pela díade aguentar-soltar – está conectada com o aparecimento da vergonha. Podemos verificar que a vergonha nos leva à aproximação e ao distanciamento. A função da vergonha funciona, sob essa perspectiva, como estruturante das polaridades eu-outro; consciente-inconsciente, ego-self, sendo de grande importância a utilização desse afeto na relação transferencial do setting terapêutico. Na terapia, devemos referendar esse afeto nas feridas da infância, quando o destino individual está nas mãos dos que nos cuidam e da sociedade a que pertencemos. Verificamos que existe uma cultura da culpa e uma tendência, ainda que inconsciente, de expulsar a vergonha, tida como algo que incomoda, encapsulando-a no inconsciente, criando defesas e sintomas. Em linhas gerais, percebemos ser a vergonha arquetípica, portanto estrutural e estruturante da personalidade, podendo vir a ser um guia diário para uma sabedoria humilde, deflacionada.