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Livro - Ler o livro do mundo
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Para o romântico Baader não é “um simples chiste, uma comparação, mas sim uma verdade profundamente física, que nós lemos no grande livro da natureza com o sentido da visão, ou ao menos soletramos incessantemente”. Walter Benjamin também estava convencido desta verdade. Tanto que ele afirmou com relação ao seu projeto de escrever a história do século XIX a partir das passagens e galerias de Paris: “O discurso sobre o livro da natureza alude ao fato de que se pode ler a efetividade como um texto. Assim deverá ser feito aqui com a efetividade do século XIX. Nós abrimos o livro do sucedido”. O presente estudo analisa a obra de Walter Benjamin — reconhecidamente o mais criativo pensador do período entre Guerras da Alemanha — do ponto de vista da sua relação com os revolucionários poetas-filósofos Novalis e Friedrich Schlegel. O pensamento de Benjamin é iluminado a partir de vários conceitos fundamentais, como o de “tradução”, de “linguagem originária”, de “leitura do mundo”, de “filosofia como interpretação” e de “aura”. O autor ainda abre a obra de Benjamin a uma leitura interna, destacando o percurso de um pensamento original que uniu como poucos a tradição filosófica do Idealismo e do Romantismo à tradição do Judaísmo.
Este livro de Márcio Seligmann-Silva trata do conceito de crítica em Walter Benjamin (1892-1940), que se propôs “recriar a crítica como gênero” nos tempos da República de Weimar, através do estudo e aperfeiçoamento da crítica de arte criada com base nas propostas filosóficas de Kant e Fichte pelos românticos de lena, Friedrich Schlegel e Novalis. A partir de um exame das pesquisas já existentes sobre a questão, este trabalho dedica-se a comparar as concepções de Benjamin e dos românticos focalizando três aspectos centrais: a filosofia da linguagem, a crítica do conhecimento e a crítica de arte.
Nesses três âmbitos, o estudo se detém, por um lado, no uso estrategicamente negativo do conceito de crítica, no sentido de que Benjamin precisou “limpar a área de ação do crítico”, para poder recriar o gênero. São expostas detalhadamente a crítica de uma concepção puramente instrumental e comunicativa da linguagem, a partir de uma concepção mágica e metafísica; a crítica das teorias racionalistas, sistêmicas e logocêntricas do conhecimento, próprias da Aufklärung, a partir de um resgate do mito, do fragmento e da protolinguagem (Ursprache); e a crítica de formas tradicionais de crítica da arte como o universalismo superficial da história das ideias, as diversas facetas do positivismo (biográfico, psicologista, sociologizante), o formalismo e a apologia de autores e obras — contrapondo-Ihes uma concepção de crítica como medium-de-reflexão.
Por outro lado, o trabalho deixa claro que o conceito benjaminiano e romântico de crítica é baseado numa visão essencialmente positiva, em que se destaca uma teoria do conhecimento que engloba o trabalho da imagem ao lado do trabalho do conceito, bem como a noção de uma crítica poética, produtiva, que “potencia” a obra criticada, atualizando-a num determinado “agora” que rompe com o “continuum” da história.
Uma característica marcante do estudo de Márcio Seligmann-Silva, que é também tradutor da tese de doutorado de Benjamin sobre o romantismo alemão, é o fato de ele pensar o conceito de crítica poética em estreita relação com a teoria e prática da tradução, o que pode se tornar particularmente fecundo para o debate desses conceitos de crítica no contexto intelectual brasileiro.
 WILLI BOLLE