Paisagens da memória, cenas urbanas e rurais de uma alma que navega os tempos e os espaços afetivos e indefinidos abertos apenas à mente. Ausência completa de personagens humanos nos edifícios que são habitados unicamente pela imaginação daquele que contempla. Cores invisíveis na palheta da visão interior, pincéis e lápis feitos de sentimentos e emoções. É preciso identificar-se, encontrar-se em meio aos edifícios, debruçado em uma janela, atrás de uma cortina que esvoaça ou nalgum quintal descuidado. É preciso passear, descansar os olhos nos horizontes imaginários, percorrer os labirintos. Os finos traços das imagens esperam pelas cores que lhes darão semelhança. O desenho seco e sintético oferece apenas a oportunidade dessa recriação, um terreno do qual se aproprie a pessoa que contempla, uma morada para a mente, uma nova paisagem oculta por trás dos rabiscos das folhas das árvores, das linhas das fachadas, das tensões presentes em perspectivas que fogem à percepção comum. Somente o espectador se torna dono e senhor destas construções, destas terras, desta geografia. Somente a ele é dado fazê-las suas, imprimindo as cores de suas próprias memórias, as nuanças e os tons de sua imaginação, as luzes e sombras que apenas seus olhos podem conceber. Esta viagem se inicia por paisagens estranhamente planas, bidimensionais, fachadas que nos olham mudas com suas fisionomias geométricas, interrogativamente. Aos poucos os desenhos ganham profundidade, personalidades próprias que se abrem ao diálogo: uma fábrica, um farol, a velha tulha da fazenda da infância, lembranças da casa de Monsieur Hulot... Até se transformarem em verdadeiros cenários, urbanos ou rurais, gravitando entre a São Paulo do início do século XX com seus trilhos de bonde e a vida bucólica da aldeia retratada por Militão em 1860. Faça esta viagem. Este agora é o seu livro