A cultura da sociedade ocidental moderna relegou o adoecimento e a morte a um lugar quase inexistente, como se ambos fossem fenômenos alheios à vida humana.A possibilidade de resgate de um sentido para a vida da pessoa que adoece e que eventualmente morre, torna-se ainda mais essencial em nossos dias, em que o contato com estas experiências é evitado a todo custo, como se não fizessem parte da existência. A dor, o adoecer e o morrer são afastados de nós como se fossem algo estranhos à realidade atual de um mundo ''coisificado'', onde o imediatismo, a superficialidade e o descartável ocupam o papel principal.Voltar a ''inclinar-se'' sobre a pessoa que sofre, tentando resgatar o sentido do adoecimento, deveria ser a tarefa fundamental de todo clínico: assistir e cuidar de toda dor humana, compreendendo-a no que ela tem de pura expressão subjetiva.A narrativa de vida de um ser humano dá sentido ao seu adoecimento e à sua morte. Pois, como diria Groddeck, ''morrer não é algo alheio à vida, mas é parte integrante dela''.Só adoecemos e morremos porque vivemos. E morremos como vivemos: talvez seja esta a nossa única e inequívoca certeza.